sexta-feira, 2 de julho de 2010

É tempo de plantar

Caminhando por um terreno que comprei, vi algo que me deixou triste...

Havia bem no centro uma árvore, linda, copas altas, raízes fortes.
Era uma árvore que se destacava no ambiente, pela sua opulência.
O terreno estava coberto de mato; uma gramínea vasta que se entrelaçava.

Pensei logo, vou cortá-las, limpar este terreno todo!!
Mas minha tristeza era como fazer?, quem poderia me ajudar?
Já que se tratava de uma monumental escultura arbórea...
Resolvi chamar um morador que era conhecido nas redondezas por executar
trabalhos dessa natureza.

Ele chegou, olhou e me disse...
Está na hora mesmo de cortá-la;
Veja as folhas como estão caidas!!
Veja como a casca está grossa!!
Não acredito?, disse ele...

Pensei: isso vai sair caro...
mas resolvi atrever-me a perguntar.
O que o senhor não acredita?
Passei tantas vezes por este terreno e nunca havia percebi as frutas dessa árvore;
Em minha terra, Jenipapo era Luxo, só os ricos tinham uma árvore assim...
Disse-me ele.

E começou a contar da vida simples do sertão.

Não tinhamos água encanada, as cisternas eram muito profundas pela escassez das chuvas
O solo desprovido de umidade, proporcionava uma magra colheita.
Quem tinha dinheiro, regava suas terras com fontes de águas inesgotáveis.
E lá dava até Jenipapo, pois ela necessita de muita água para viver.
Nós não tinhamos como plantá-la, pois não haviam condições para este fim.
Mal tinhamos água para beber!!!

E enquanto ele falava, ia aos poucos recortando da paisagem a figura magistral.

Perdi a atenção em pensamentos soltos...
Remeti-me a Homilia que ouvira no final de semana
Ela falava sobre a frutuosidade da semente caida em terra fértil.

Quando retornei a consciência, ví lágrimas a escorrer pela face cansada daquela figura.
1,60m de altura, rosto queimado pelo sol, cabelos pretos voltados para trás...
Pés descalços, sujos pelo tempo...
Tímidos soluços escondidos e voz embargada.

Com sua simplicidade e humildade explicou-me:
Lembro-me de quando saiamos para  plantar...
As sacas cheias, as ferramentas, tudo era trabalhoso, pesado, vida dura...
Entre prantos, quando criança iamos nós com nosso Pai à dura lida.
Passado alguns meses, voltavamos felizes para o campo para buscar a dádiva dos céus.
As semente plantadas entre lágrimas, acabavam sendo colhidas entre sorrisos e festa.
Hoje não tenho mais meus Pais, e meus irmãos..., já não os vêjo a algum tempo!!

E derramo lágrimas por aprender hoje, conversando com o senhor...
Que devo ensinar ao meu filho as lições que a vida me deu.
Pois, assim como este Jenipapeiro um dia deu frutos e hoje encerra sua vida...
Amanhã serei eu a encerrar a minha jornada.

Percebo que é tempo de plantar.
Que minhas lágrimas originadas pela dor, ao tocar o solo,
transformam-se em vida.

Aprendi então com aquele homem simples:
Algumas vezes necessito arrancar as cascas que me tornam duro diante da vida;
Preciso levar-me a compreender que as lágrimas virão e que as vitórias também;
E principalmente, que o hoje não é tempo de colher e sim de plantar...
Pois o que planta entre lágrimas, com alegria colherá.

(Escrito por: Mr.Brunos)

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